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O Maestro dos Arraiás.


Apenas quem fez parte dos tempos áureos do São João do Rio de Janeiro, sabe o que foi a pessoa Luiz Marins para o movimento junino. Organizador de grandes arraiás pela Zona Oeste, entre estes a Praça do Canhão em Realengo e a sua participação em uma das maiores festas de todos os tempos, o Arraiá do Rio.


Essa entrevista foi realizada no ano de 2006 ainda para o projeto acadêmico para o livro "São João do Rio de Janeiro", na época desta conversa ainda tínhamos aqui em nosso plano, a saudosa Telma, sua esposa e presidente da AGRUDACERJ, que na época colaborou para a realização desse trabalho de pesquisa. Este projeto é também em sua homenagem e memória. Acompanhem como foi:



Como começou o seu envolvimento com o Movimento Junino?

- Comecei a participar de festa junina desde os meus 12 anos até os meus 18 anos, ao lado da minha casa em Realengo, tinha um terreno vazio, onde nós fazíamos uma quadrilha para dançar, mais não era nada comparado com o que chamamos hoje de quadrilha profissional, era uma quadrilha de bairro, onde cada um pegava a sua calça jeans e colocava um remendo, uma camisa xadrez, e todo ano nós fazíamos essa quadrilha, mas dançávamos somente nessa festa, e não vinham quadrilhas de outros lugares para dançar na festa, era somente frequentada por vizinhos.

Em 1985, quando eu era assessor de um Deputado em Realengo, e fui procurado pela Telma, hoje minha esposa, que na época participava da quadrilha Brejo Açú. O pedido era para que nos apoiássemos o evento que a quadrilha queria fazer no bairro do Barata em Realengo. Quando eu assisti o trabalho das quadrilhas, observei que era um movimento que tinha tudo para crescer, mas era desorganizado, pois havia uma rivalidade muito grande, não havia união entre os grupos, então, foi a partir daí que surgiu a ideia de criar a AGRUDACERJ, que quando começou com quarenta e cinco grupos, com grupos de Realengo até Inhoaíba, em Santa Cruz. Com isso a rivalidade acabou, as festas de bairro passaram a ser mais organizadas e nós conseguimos pela primeira vez os ônibus que eram tão desejados pelas quadrilhas.


Como era essa rivalidade entre as quadrilhas?

- As quadrilhas nessa época não aceitavam a vitória de outra, e com isso ao serem divulgados os resultados, as que perdiam quebravam troféus para a quadrilha vencedora não os levassem, jogavam espigas de milho, pra dentro do arraia para atingir a quadrilha rival que estivesse se apresentando, vaiavam as quadrilha concorrentes e chegavam até em determinados bairros, ameaçar quadrilhas de outros bairros a se caso ganhassem o primeiro lugar, que não sairiam com troféu. Com isso volta e meia saiam muitas brigas de conseqüências até graves.


E em que a criação da AGRUDACERJ contribuiu para isso mudar?

- Certa vez eu conversando com o Januário, que era presidente dos cabeceiras de feira, contei essas historias das brigas entre as quadrilhas, e então ele me relatou que na feira também tinha essas brigas, bem parecido com o que acontecia com as quadrilhas, e que quando eles criaram a associação, às coisas melhoraram, as pessoas passaram a participar, passaram a entender as normas, e foi uma coisa legal, com isso tivemos a ideia de pegar o estatuto da associação dos cabeceiras de feira, e fizemos algumas modificações para adequar ele ao movimento de dança de quadrilha, e fizemos o estatuto, chamamos as quadrilhas para participarem, pois elas ainda estavam tímidas na participação, houve ainda muita discussão nas questões de eleição da diretoria dentro da associação AGRUDACERJ. Com isso a situação mudou de uma tal maneira, que exemplifico a quadrilha Tuiú Pitu e a quadrilha Banzé da Roça que eram ambas da mesma rua Alcides Bezerra, e apesar de serem da mesma rua, não se davam, brigavam, era uma rivalidade tremenda, e que já no primeiro ano da fundação da associação a Banzé da Roça desmontou o seu cenário para emprestar a fiação e as lâmpadas para iluminar a festa da Tuiú Pitu, e acho que isso aí já foi um grande feito da associação.


E como foi para chegar ao Arraiá do Rio?

Pode se dizer que o primeiro Arraia do Rio começou mais ou menos em 1986, nessa época era um evento que acontecia com uma festa em Santa Cruz, uma festa em Campo Grande, e uma outra em Bangu, e uma grande final no Aterro do Flamengo, o nome do evento ainda não era Arraia do Rio, mas foi o primeiro evento que uniu quadrilhas de várias áreas do Rio e as duas associações existentes, a AGRUDACERJ e a AQUAERJ. Esse evento durou três anos, e até o ano de 1992, não houve nenhum evento oficial por parte da prefeitura ou do governo do estado. O que aconteciam eram as festas, como a da Quinta da Boa Vista, mas eu mesmo não cheguei a conhecer, a grande festa que ainda alcancei foi o Arraiá do Galo de Ouro.


E quando surgiu o Arraiá do Rio?

- A ideia do Arraiá do Rio surgiu quando eu fiz uma festa junina na Companhia Estadual de Gás, onde eu era funcionário, e nessa época o presidente da empresa era o Eider Dantas. Na época que o César Maia ganhou as eleições para prefeitura, eu fui a Rio Luz, pra tentar colocar lâmpadas na rua Itapiciricá em Realengo, e ao chegar lá para a minha surpresa o presidente da Rio Luz era então o Eider Dantas, então ele me chamou e me disse: “Luiz, o César Maia esta querendo fazer uma festa junina, e esta precisando saber como fazer esse evento, você podia montar um projeto para realizar esse evento” então eu fiz o projeto para ter seis festas, começando em Santa Cruz e terminando em Deodoro. Entreguei o projeto ao Eider Dantas, e quatro dias depois recebi um telegrama para eu me apresentar no setor onze do Sambódromo e procura o Rodrigo Farias Lima, chegando lá o Rodrigo me falou que o prefeito César Maia avia se encantado com o projeto, mas que ele não queria fazer só seis festas ele queria fazer setenta, então era para nos reunirmos e ver a forma de fazer estas festas. O Rodrigo então procurou e convidou todas as outras associações existentes na época, a FAQUAERJ, a SIQUERJ e a FIGDQUERJ, todas oriundas da AQUAERJ que já não existia mais. Aconteceu então reuniões para discutir a elaboração do regulamento e o nome do evento que inicialmente seria Arraiá Rio de Janeiro, e o Rodrigo Farias Lima, sugeriu o nome Arraiá do Rio.


Houve na época algum empecilho ou dificultador?

- O mais difícil na época foi à definição de um regulamento para se adequar aos dois estilos de quadrilha existentes, esse foi o primeiro choque existente, o luxo de algumas quadrilhas e as quadrilhas sem luxo, onde ambas eram julgadas igualmente, foi onde chegamos até a definição de se oficializar dois estilos ou categorias, passado a se chamar salão e roça, onde passaram a ser julgadas em separado.

Um outro problema que apareceu no inicio do Arraiá do Rio, foi a preocupação das quadrilhas em dançar a final do concurso na Praça da Apoteose, dado ao fato de ser um local muito grande, e ser uma festa nova, poderia ficar uma festa vazia. Foi onde o Rodrigo Faria Lima teve a ideia de usar um tablado para aproximar o publico e melhorar a visão de todos, mas as quadrilhas tiveram receio de dançar em cima desse tablado, e durou somente um ano a utilização.


E como funcionava o Arraiá do Rio?

- O evento Arraiá do Rio tinha a seguinte organização:

A UERAQUERJ surge da necessidade de administrar o projeto Arraiá do Rio, onde ficavam essas associações responsáveis pelas quadrilhas e pelas festas classificatórias e semi-finais e ficava sob a responsabilidade do Retiro dos Artistas a administração financeira do evento.

A fase classificatória que era organizada por cada uma das associações para as suas quadrilha filiadas.

A fase semi-final que era organizado em conjunto entre todas as associações, com festas definidas por cada uma das federações.

A fase final que também organizada em conjunto, porém todas juntas em um mesmo evento com a participação das quadrilhas classificadas.


Qual foi o auge do evento Arraiá do Rio?

- O Primeiro ano foi o mais forte, porque conseguiu-se realizar o projeto. Colocar 2.000 ônibus na rua e colocar o evento em 68 lugares, com 8 semifinais e uma grande final no Sambódromo, com a presença do prefeito em todos os dias de festa, e ainda a entrega de medalhas feitas pessoalmente pelo prefeito. Acho que isso foi um grande marco.

Agora, o auge foi a partir do quarto ano, quando a maior parte dos estados da União, tomaram conhecimento do Arraiá do Rio e todo mundo queria vir pra cá se apresentar, mesmo que só tivessem os banheiros para o pessoal se hospedar, apenas para poderem se dançar no Arraiá do Rio.




A prefeitura do Rio deu apoio institucional para a realização da fase final, que foi até 2002 na Praça da Apoteose. Após isso aconteceram mais alguns eventos pontuais na Praça da Apoteose, sendo o último evento no ano de 2008 pela Festrilha do Rio. Neste mesmo canal viremos trazendo mais histórias sobre as grandes festas do nosso estado e um documentário somente sobre o Arraiá do Rio, com depoimento de outros grandes nomes que fizeram parte da nossa história, sempre buscando o lado cultural e otimista dessa nossa festa.

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